Mitos e verdades: a importância da proteína para quem não treina

Nutrição Proteína
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A proteína é frequentemente associada ao ganho de massa muscular e ao universo dos praticantes de atividade física. No entanto, esse nutriente vai muito além da hipertrofia. Mesmo para indivíduos sedentários, uma ingestão adequada de proteína está relacionada à manutenção da massa magra, controle do apetite, regulação metabólica e prevenção de doenças crônicas.

Neste artigo, você vai entender por que a proteína é essencial mesmo para quem não treina, com base em evidências científicas recentes.

Afinal, quem precisa de mais proteína?

A Recomendada Dietética de Proteína (RDA) é de 0,8 g/kg/dia para adultos saudáveis. No entanto, estudos indicam que essa recomendação pode ser insuficiente para otimizar a saúde metabólica, o controle de peso e a preservação da massa muscular, mesmo em indivíduos inativos.

Verdades baseadas em evidência:

  • Ingestões entre 1,2 e 1,6 g/kg/dia estão associadas à melhor preservação da massa magra, maior saciedade e melhora no perfil cardiometabólico, independentemente da prática de exercícios físicos.
  • A distribuição proteica ao longo do dia, com cerca de 25–30 g de proteína por refeição, estimula mais eficientemente a síntese proteica, especialmente em adultos e idosos.

Mito 1: quem não treina não precisa de tanta proteína

Esse é um dos mitos mais comuns.

A verdade é que, mesmo em repouso, o corpo passa por constante renovação de tecidos, incluindo enzimas, hormônios e estruturas celulares. A síntese proteica basal continua ativa, e sua eficiência pode ser afetada por fatores como idade, doenças crônicas e resistência anabólica.

  • Estudos mostram que dietas com maior teor de proteína são eficazes para:
  • Reduzir a perda de massa magra em períodos de emagrecimento;
  • Aumentar a saciedade e melhorar o controle glicêmico mesmo sem atividade física;
  • Reduzir o risco de sarcopenia e fragilidade em adultos mais velhos.

Mito 2: mais proteína sobrecarrega os rins

Este mito persiste, mas não é sustentado por evidências em indivíduos saudáveis.

A literatura atual é clara: em pessoas sem doença renal pré-existente, o aumento da ingestão proteica não compromete a função renal. Estudos longitudinais mostram que, mesmo com ingestões acima de 1,6 g/kg/dia, não há efeitos adversos sobre a taxa de filtração glomerular ou excreção de nitrogênio.

Mito 3: proteína em excesso nunca vira gordura

Esse é um mito comum — mas parcialmente equivocado.

Embora a proteína tenha menor potencial de ser convertida em gordura corporal do que os carboidratos e os lipídios, o excesso crônico de proteína pode sim ser armazenado como gordura, caso haja superávit calórico.

A diferença está na eficiência metabólica:

  • A conversão de proteína em gordura é um processo energeticamente custoso.
  • A proteína tem o maior efeito térmico dos alimentos (TEF), com até 30% da energia sendo “gasta” na digestão e metabolização.
  • Dietas proteicas aumentam a saciedade, o que normalmente reduz o consumo total de calorias.

Mito 4: não importa quando consumir proteína

O timing da ingestão também faz diferença. Para otimizar a síntese proteica, recomenda-se o consumo de pelo menos 30 g de proteína de alta qualidade por refeição, incluindo o café da manhã — refeição comumente negligenciada em termos proteicos.

Conselhos práticos para o consultório

Para pacientes que não praticam exercícios regularmente, a recomendação de proteína deve considerar:

  • Estado nutricional, idade e comorbidades;
  • Objetivos clínicos: emagrecimento, prevenção de sarcopenia, controle glicêmico;
  • Fonte proteica: priorizar alimentos de alta qualidade biológica, como leite, ovos e carnes magras;
  • Distribuição ao longo do dia: incentivar o consumo de proteína no café da manhã e almoço, não apenas no jantar.

Ou seja, a proteína é um nutriente essencial em todas as fases da vida, e seu papel vai muito além do universo esportivo. Para indivíduos sedentários, o consumo adequado — e até mesmo elevado — não só é seguro, como pode trazer benefícios importantes para a saúde metabólica, composição corporal e qualidade de vida.

Como nutricionista, compreender esses fundamentos permite uma atuação mais assertiva e personalizada, especialmente diante do envelhecimento populacional, da alta prevalência de obesidade e da crescente demanda por abordagens alimentares baseadas em ciência.

Referências

LAYMAN, Donald K ; CLIFTON, Peter; GANNON, Mary C; KRAUSS, Ronald M; NUTTALL, Frank Q. Protein in optimal health:: heart disease and type 2 diabetes. The American Journal of Clinical Nutrition, 2008. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18469290/. Acesso em: 20 maio 2025.

LEIDY, Heather J; CLIFTON, Peter M. ; ASTRUP, Arne. The role of protein in weight loss and maintenance. The American Journal of Clinical Nutrition, 2015. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25926512/. Acesso em: 20 maio 2025.

PADDON-JONES, Douglas ; WESTMAN, Eric; MATTES, Richard D. Protein, weight management, and satiety. The American Journal of Clinical Nutrition, 2006. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18469287/. Acesso em: 20 maio 2025.PHILLIPS, Stuart M.; CHEVALIER, Stéphanie; LEIDY, Heather J.. Protein “requirements” beyond the RDA:: implications for optimizing health. Canadian Science Publishing, 2015. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26960445/. Acesso em: 20 maio 2025.