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A sarcopenia é uma condição progressiva e multifatorial, caracterizada pela perda de massa muscular, força e função com o envelhecimento. Embora ainda não existam terapias farmacológicas eficazes, estratégias nutricionais — especialmente a ingestão adequada de proteína — têm papel central na prevenção e no manejo dessa síndrome geriátrica.
A perda muscular como marcador de risco na longevidade
Com o avanço da idade, há uma redução fisiológica da massa magra, com predomínio da atrofia de fibras do tipo II, diminuição da força (dinapenia) e perda de desempenho físico. Esses fatores estão diretamente associados a desfechos como quedas, incapacidade funcional e mortalidade. Estudos apontam que o declínio da força é mais precoce e acentuado do que o da própria massa muscular.
A ingestão proteica como aliada contra a sarcopenia
Um dos principais fatores contribuintes para esse processo é a anabolic resistance — uma menor capacidade do músculo envelhecido de responder ao estímulo anabólico dos aminoácidos. Evidências mostram que idosos precisam de doses proteicas superiores às recomendações tradicionais (0,8 g/kg/dia) para estimular adequadamente a síntese proteica muscular (MPS).
Metanálises recentes apontam que indivíduos com sarcopenia consomem, em média, menos proteína do que seus pares não sarcopênicos, sugerindo uma associação direta entre ingestão inadequada e risco aumentado para a condição.
Recomendações atualizadas de proteína na prática clínica
Organizações como ESPEN e o PROT-AGE Study Group recomendam que adultos mais velhos consumam entre 1,0 e 1,2 g/kg/dia, podendo chegar a 1,5–2,0 g/kg/dia em situações de doença aguda, desnutrição ou recuperação.
Além da quantidade, a qualidade proteica é essencial. Proteínas de alto valor biológico — como as proteínas lácteas, ricas em leucina e altamente digestíveis — são mais eficazes em estimular a MPS do que fontes vegetais, especialmente quando consumidas de forma fracionada ao longo do dia.
Evidências clínicas e implicações práticas
Uma revisão sistemática com mais de 3.300 idosos mostrou que o grupo com sarcopenia apresentava consumo proteico significativamente menor. Outro estudo demonstrou que, mesmo com ingestão ≥1 g/kg/dia, padrões alimentares ricos em gordura saturada aumentaram o risco de sarcopenia ao longo de 3 anos, reforçando a importância do padrão alimentar como um todo.
Proteína láctea: destaque para aplicações clínicas
A proteína do leite, especialmente o whey protein e a caseína, fornecem todos os aminoácidos essenciais e são ricas em leucina, ativando a via mTOR, fundamental para iniciar a síntese muscular.
- Whey: absorção rápida, ideal para o pós-exercício.
- Caseína: digestão lenta, útil durante o sono ou períodos prolongados sem ingestão alimentar.
Ambas são eficazes na manutenção da massa muscular quando associadas a uma dieta equilibrada e exercícios de resistência.
Considerações finais para a prescrição nutricional
A abordagem nutricional para prevenção da sarcopenia deve priorizar:
- Ingestão proteica diária ≥1,2 g/kg de peso corporal em idosos saudáveis, com ajustes clínicos individualizados;
- Fontes de alta qualidade, como lácteos, ovos e carnes magras, com ênfase nas proteínas do leite;
- Distribuição proteica equilibrada ao longo do dia (25–30 g por refeição);
- Integração com atividade física regular, especialmente treino de força;
- Monitoramento contínuo de massa magra, força e estado nutricional.
A proteína, quando bem prescrita, torna-se um dos pilares da longevidade ativa, contribuindo para preservar autonomia, função e qualidade de vida no envelhecimento.
Referências
CALVANI, Riccardo ; PICCA, Anna; COELHO-JÚNIOR, Hélio José. Diet for the prevention and management of sarcopenia. Metabolism: Clinical and Experimental, 2020. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S002604952300241X?utm_source=chatgpt.com. Acesso em: 19 maio 2025.
COELHO-JÚNIOR, Hélio José; CALVANI, Riccardo ; AZZOLINO, Domenico. Protein Intake and Sarcopenia in Older Adults:: A Systematic Review and Meta-Analysis. International Journal of Environmental Research and Public Health, 2022. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC9320473/?utm_source=chatgpt.com. Acesso em: 19 maio 2025.ISPOGLOU, T. et al. The efficacy of essential amino acid supplementation for augmenting dietary protein intake in older adults: implications for skeletal muscle mass, strength and function. Proceedings of the Nutrition Society, p. 1–30,
